50 years – a personal reflection

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Thursday, July 14, 2022 - 15:15

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Dia 9 de Julho celebrei 50 anos de vida. Coincidentemente, este ano a CATÓLICA-LISBON também celebra 50 anos de existência. E, em breve, o nosso país irá celebrar 50 anos de Democracia. Dada estas datas marcantes, este meu artigo terá um cunho mais intimista.

50 anos é um bom marco para balanços, do que foi realizado, do seu impacto e das oportunidades de futuro. Esse balanço pode ser feito ao nível pessoal, organizacional e nacional. O elemento comum, seja qual for o nível, é a noção de impacto diferencial – a diferença positiva que aquilo que fazemos gera na vida e bem estar das pessoas.

Ao nível pessoal, o impacto pode medir-se na relação com o outro - na generosidade com que a encaramos e a inteligência com que a gerimos. A noção essencial é a criação de valor – o que cria maior valor futuro para aqueles que estão em relação comigo e como vou gerir essa relação para gerar esse valor.

Felizmente, o ensino superior é propício à geração de impacto. Ao criar novo conhecimento, capacitamos a sociedade para a ação informada e eficaz. Ao educar uma nova geração e capacitar gestores, geramos externalidades positivas que perduram no tempo. A área de investigação e ensino que escolhi desenvolver na minha carreira foi o empreendedorismo com um foco na inovação social. Escolhi essa área por acreditar profundamente no valor para a sociedade de promover a iniciativa privada e a inovação, em particular em áreas que promovem a resolução de problemas de sociedade e geram inclusão e maior bem-estar, temas habitualmente negligenciados pelo empreendedorismo mais tradicional.

Indo para além das atividades de investigação académica e ensino, uma noção importante é o fator de multiplicação que se aplica ao valor que criamos. Se trabalhar sozinho, o meu impacto vai ser limitado ao meu tempo e energia. Se inspirar outros e criar e/ou liderar um projeto, movimento ou organização, o impacto será multiplicativo e mais duradoiro. Nesta linha de multiplicação de impacto, as duas realizações que mais me orgulho em 50 anos foram 1) a fundação em 2009 do IES – Instituto de Empreendedorismo Social, organização que marcou o desenvolvimento de todo o ecosistema de inovação social Português; 2) a fundação e presidência da Portugal Inovação Social lançada em 2015 – política pública de financiamento e desenvolvimento da inovação social. Esta política já apoiou mais de 700 projetos num total de 100 milhões de euros de financiamento público. A este valor acrescem 50 milhões de euros de financiamento privado dado que esta política, considerada uma boa prática a nível Europeu na utilização de fundos europeus, foi desenhada numa lógica de matching funding, encetando parceria público-privadas para o apoio a projetos de impacto e criando um mercado de investimento social.

Em ambas as organizações – IES e Estrutura de Missão Portugal Inovação Social, já não tenho qualquer papel há muitos anos mas as iniciativas continuam, o que é muito gratificante. O verdadeiro legado acontece quando as organizações que criamos e lideramos já não precisam de nós para continuar o seu caminho de criação de valor. Felizmente, e ao contrário de outras áreas, esta aposta na inovação social tem sido continuada por vários governos. A estabilidade de políticas é essencial para criar lastro positivo e impacto duradoiro com o objetivo de tornar Portugal a referência em inovação social na Europa.

Em termos de oportunidade de futuro, o meu próximo ciclo, iniciado em 2019, passa pela liderança da Católica Lisbon School of Business and Economics, uma business school no top 30 da Europa. Uma Escola com programas que se contam entre os 20 melhores do mundo nos rankings do Financial Times e que celebra também este ano os seus 50 anos de lançamento do ensino superior em gestão em Portugal. Neste papel de Dean, o impacto passa a ser sistémico. Uma Escola de Negócios está no centro da Economia e a CATÓLICA-LISBON É uma escola independente e reputada que pode, para além do core de ensino e investigação em Economia e Gestão, mobilizar as empresas e a sociedade para abordarem áreas chave para o futuro do país. Já estamos a trabalhar com empresas na promoção da boa gestão da água em Portugal, e no alinhamento das empresas Portuguesas com os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS). Criámos em 2020 o PROSPER – Center of Economics for Prosperity, para trabalhar na criação de evidência científica sobre os resultados de políticas públicas. E vamos organizar em parceria com as empreas um grande evento nos dias 19 e 20 de julho sobre a Saúde Mental em contexto empresarial – O Mental Health Summit, embrião de um futuro consórcio para abordar este sério problema de saúde em Portugal.

Portugal é hoje em dia um dos países da Europa com mais escolas no rankings internacionais de gestão, sendo este um resultado invulgar dada a reduzida dimensão do nosso país, comparando positivamente com grandes economias como a Alemanha e Itália, de onde aliás Portugal atrai milhares de alunos todos os anos. A este resultado não é alheio o papel da CATÓLICA-LISBON como Escola não estatal de interesse público que, ao inovar no ensino da gestão e na formação executiva, e ao internacionalizar-se cedo e garantir em 2007 a cobiçada tripla acreditação internacional, deu o mote e o exemplo às Escolas estatais para também se desenvolverem e internacionalizarem. Um papel de inovação sistémica que, aliás, a Universidade Católica Portuguesa está novamente a desempenhar com o lançamento do ensino de Medicina não estatal em Portugal, abanando o conformismo das Escolas Estatais que, centradas nos interesses instalados, não aumentavam o número de vagas nem inovavam nos modelos de ensino. A livre competição é fundamental para a inovação nos sistemas, inovação essa que nos beneficia a todos e a Portugal.

Isso leva-nos a uma reflexão do impacto do país no bem estar da sua população, após quase 50 anos de democracia. Portugal é hoje um país mais moderno, mais livre e mais orientado para o Mundo. É um país com uma capacidade enorme de atração de talento, visitantes e atividade ecónomica e melhorou muito os seus indíces de desenvolvimento humano. Portugal tem, no entanto, indíces de desenvolvimento económico, produtividade e salários inferiores ao que seria desejável, estando a divergir da União Europeia, e tem um peso do Estado na Economia superior à média da OCDE, com uma carga fiscal muito pesada. Portugal precisa de promover a iniciativa privada e empresarial, desenvolver a competição saudável entre áreas, articular em complementaridade valências públicas e privadas, e libertar a iniciativa empreendedora e inovadora da sua população, para uma maior prosperidade de todos, 50 anos depois de Abril.

 

Filipe Santos, Dean da CATÓLICA-LISBON