A palavra sustentabilidade parece estar cada vez mais radicada nos discursos empresariais. Porque será? Alguns dirão que é uma moda, outros que é um imperativo ao sucesso empresarial.
Em 2019, Feike Sijbesma, Ex-CEO e Chairman da DSM, afirmava num dos seus discursos (de quem já liderou um dos maiores conglomerados do mundo na área da indústria quimíca e nutrição por mais de 20 anos): “Não é possível ter empresas bem sucedidas em sociedades falidas”.
Esta expressão é, talvez, uma das formas mais descomplicadas de compreendermos porque andamos todos, no final de contas, a falar de sustentabilidade: porque a nossa sociedade enfrenta riscos que as empresas não podem negligenciar, se quiserem ter sucesso nos seus negócios.
Uma das formas mais objetivas de concluirmos esta realidade é a publicação do “The Global Risks Report” publicado o mês passado no World Economic Forum. Este relatório apresenta os riscos climáticos e sociais como aqueles que mais ameaçarão os negócios e a estabiliddae mundial nos próximos 10 anos. Reiterando este alerta, o trabalho da ciência diz-nos que já quebramos 4 das 9 barreiras planetárias que garantem a estabilidade do nosso planeta. É possível reverter esta tendência, mas são necessárias ações imediatas por parte de todos os agentes económicos.
No que toca às questões sociais, o panorama é igualmente ameaçador. Apesar de sabermos que vivemos na era de maior prosperidade humana no planeta, nunca houve tanta desigualdade. Enquanto que em 2019 apenas 26 pessoas no mundo detinham metade da riqueza mundial, a crise pandémica agravou esta situação, empurrando mais 100 milhões de pessoas para uma situação de pobreza em 2020, segundo dados do Banco Mundial. Simultaneamente, os 10 mais ricos do mundo enriqueceram durante o primeiro ano do COVID-19 em cerca de meio trilião de dólares, o suficiente para pagar a vacina a todos os seres humanos no mundo, numa altura em que a desigualdade no acesso à vacina é calamitosa.
Perante este cenário, como dizia David Attenborough na COP 26 em Novembro passado, há, no entanto, esperança no futuro! Nós, seres humanos, somos afinal de contas, os maiores “problem-solvers” da História, dizia. No entanto, o poder e o risco não são iguais para todos. Num contexto mundial em que as empresas detêm cerca de 75% do PIB mundial, a sua ação é fundamental. Por outro lado, a inação do mundo corporativo não é uma opção, uma vez que a pressão dos clientes, investidores, colaboradores e sociedade, não lhes darão licença para operar, caso decidam negligenciar os grandes desafios sociais e ambientais da humanidade.
Perante o tamanho do desafio e a complexidade e diversidade dos problemas em mãos perguntamo-nos: “Há solução?”. Na verdade, precisaríamos de uma agenda comum, que reunisse todos os atores em torno da mesma mesa, e que nos apontasse para um caminho prático de prosperidade e positividade no futuro. No caso das empresas, ou esse caminho significa lucro, ou não serve.
A boa notícia que vos trago é que essa Agenda já existe. Chama-se “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” e estima-se que represente mais de 12 triliões de oportunidades de negócio para as empresas a cada ano, até ao seu prazo de término: 2030.
As empresas já perceberam que há “algo” nos ODS que lhes pode interessar. Mas escolher as caixas coloridas de acordo com uma estratégia de marketing cativante não chega e não traz negócio. Na verdade, a potencialidade desta agenda universal existe e os “first-movers” serão certamente os líderes do futuro. Na CATÓLICA-LISBON temos vindo a desenvolver este trabalho concreto com empresas e vamos continuar. Afinal, num mundo finito mas abundante, onde queremos que o ser humano esteja sempre no centro da prosperidade, acreditamos que a melhor forma de gerir é lucrar resolvendo os problemas do mundo, e não gerar problemas para o mundo, através do lucro débil do curto prazo.
Se não acredita na Sustentabilidade como estratégia para a sua empresa, experimente por um instante imaginar que não respeita os limites de emissões de carbono (ODS 13) , não atende aos temas de direitos humanos no value chain (ODS 8), gere as suas relações com lógicas de corrupção (ODS 16) e duplica o salário do CEO não aumentando trabalhadores de base (ODS 10). Como se vê daqui a 5 anos?
E como se veria a adotar práticas de circularidade (ODS 12), apostar na formação dos seus colaboradores (ODS 4), promover a liderança pelo mérito (ODS 5) e a desenvolver novas tecnologias sustentáveis (ODS 9)?
Filipa Pires de Almeida, Deputy-Director Center for Responsible Business & Leadership