No contexto da brutal e inqualificável invasão da Ucrânia pela Rússia, tenho lido alguns artigos de pessoas influentes em todo o mundo sobre o "enorme erro" cometido por alguns países europeus (e pela UE no seu conjunto) na tentativa de acelerar a "agenda verde" e, assim, conduzir a uma maior dependência do fornecimento de energia de outras fontes, especialmente petróleo e gás russos.
Quero que esta mensagem seja curta e clara sobre o que penso: discordo totalmente desta posição. A Europa sempre esteve dependente de fontes de energia externas (especialmente após a eliminação progressiva do petróleo e do gás norueguês). A situação que a Europa enfrenta agora não seria de todo significativamente diferente se a Europa não seguisse uma agenda sustentável, corajosa e necessária. A liderança europeia nesta matéria é uma das poucas "esperanças" de que o Planeta possa inverter o caminho para o desastre climático.
Como salienta o último relatório do IPCC: a situação é muito pior do que pensávamos e a pequena janela de oportunidade para evitar uma catástrofe está a fechar-se rapidamente. Nas palavras de António Guterres "vi muitos relatórios científicos no meu tempo, mas nada como isto...". A única razão pela qual este relatório não fez manchetes dramáticas nos meios de comunicação social em todo o mundo é, obviamente, devido ao que se passa atualmente na Ucrânia.
Lamento ser muito assertivo e direto: adiar a "agenda verde" para "proteger a independência energética" é apenas trocar a devastação e o sofrimento humano devido às armas por uma devastação e sofrimento humano devido às alterações climáticas. Em termos de baixas e sofrimento humano alguém tem dúvidas onde a devastação será maior?
Nuno Moreira da Cruz, Professor na CATÓLICA-LISBON