Por que se aposta ainda na Meta? (E não é por causa do Metaverso)

Imprensa
Sexta, Julho 15, 2022 - 16:00

Muito se vai falando a propósito do futuro de Mark Zuckerberg e da Meta. De facto, com o dealbar da Web3 viramos a página da Web 2.0 deixando para trás o impulso de aceitar cegamente qualquer caixa de Termos & Condições para hoje desconfiar e, por princípio, minimizar o tracking daquilo que apps e websites sabem de nós. Se há empresa que sofreu nesta transição e pelos vários casos de violação da confiança (e proteção dos dados) dos seus utilizadores, a Meta foi uma delas. Então, e a acompanhar alguma exaustão no uso da rede Facebook, por que acreditam e investem ainda tantos na Meta?

Em primeiro lugar, claro que podemos achar que parte da resposta está na crença por muitos investidores no aclamado metaverso. E em parte é verdade, mas não pelo que se apregoa – a saber: a criação de mundos virtuais onde os utilizadores passarão bom tempo e onde aí a empresa poderá continuar a desenvolver o seu clássico modelo de negócio de publicidade.

Voltemos ao presente. No último estudo de Os Portugueses e as Redes Sociais, da Marktest, que todos os anos faz o retrato do uso que os portugueses fazem destas plataformas, pela primeira vez em 10 anos a rede social Facebook teve uma quebra no que diz respeito ao número de utilizadores que diz aí seguir marcas, caindo de 90,4 para 78,1 por cento. Mantém a posição de liderança mas tem agora, sem surpresas, o Instagram bem perto, que passa de uns humildes 38,2 para 65,8 por cento. Nada que incomode Zuckerberg (se tal padrão for comum no mundo inteiro), pois fica com a posição reforçada e a dependência de uma rede aliviada. Só boas notícias.

Mas então, com sinais de desgaste no Facebook e a ameaça do TikTok de roubar espaço ao Instagram, por que acreditam ainda alguns investidores que vale a pena continuar a apostar na Meta?

Para começar, o Facebook tem ainda regulares três mil milhões de MAUs (monthly active users). Em segundo lugar o Instagram fideliza 1,5 mil milhões de MAUs. Portanto, a base de utilizadores fiéis é… invejável. E invejável é também o que a empresa aufere com tamanha base de utilizadores. Em 2019 um total de receitas na ordem dos 70 mil milhões de dólares e em 2021 117 mil milhões; portanto 68 por cento de aumento. Será por aqui?
Para os menos desatentos o ataque já está à vista e visa um bolo muito maior do que o da publicidade (potenciando ainda assim esta mesma). E tem um nome conhecido: e-commerce.

Se, além do vertical do social, a Meta já demonstrou ter o vertical do entretenimento (desde há muito com o gaming mas também com o Watch) o terceiro vertical é o e-commerce, potenciando a plataforma não apenas hoje e amanhã nas comissões de bens físicos transacionados na rede como no suporte ao cliente por via do WhatsApp/Messenger/IG-Message. Mas, pois claro, visando ainda o filão dos bens virtuais (NFTs e não só), que são hoje residuais mas se antevê venham a ser um novo normal nos próximos 10 anos (avatares, moda, acessórios, filtros, sons…).
Olhando aos últimos cinco anos fica notório o investimento da empresa. Facebook Shops. WhatsApp Shops, Shop Ads, Live-Shopping e o Shopping Visual Discovery… (não sei se a palavra shops apareceu vezes suficientes para se perceber).

Se a Google domina o e-commerce na pesquisa e a Amazon é o primeiro destino direto para compras visitado por defeito, a Meta aposta nas sinergias enquanto plataforma social, onde o utilizador navega despretensiosamente, incautamente, levemente por entre fotos de férias de amigos e novidades do mundo, a par de produtos e serviços que de repente pode comprar em dois cliques e até com soluções de “Buy Now, Pay Later”.

Se for bem sucedido aqui, Zuckerberg abre novo filão de receitas e nas fileiras da empresa reforça apoiantes. Até lá: “Ladies and gentlemen, faites vos jeux!”

Ricardo Tomé, Professor na CATÓLICA-LISBON